Tudo sobre o Cavalo Crioulo

Você sabia que existe uma raça de cavalos exclusivamente brasileira? Rápido e muito forte, o cavalo crioulo tem ascendência espanhola e berbere, além de se destacar com sua beleza única. Mas essa espécie tão diferenciada tem outras características que fazem dela muito querida pelos criadores de equinos.  

Dócil, inteligente, disciplinada e de vida longa, a raça é ideal para quem deseja criar cavalos ou aprender a cavalgar.  Veja tudo o que você precisa saber sobre o cavalo crioulo, o pequeno grande cavalo das Américas!

Origens

O cavalo crioulo tem origem nas raças espanholas jacas e andaluz (da Andaluzia), além do berbere (da Berbéria, território que se estende entre a Líbia e o Marrocos). Ambas chegaram ao Brasil há séculos, com o aventureiro e explorador espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca, que desembarcou na Ilha de Santa Catarina em 1540 com 250 homens e 26 cavalos. 

Com o tempo, os cavalos foram se perdendo da comitiva de Cabeza de Vaca e passaram a se criar livremente nas planícies do Cone Sul (Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai), mais especificamente na região da Bacia dos Pratas. 

Graças a essa forma de viver dos seus ascendentes, o cavalo crioulo normalmente vive livre em grandes pastos.

Durante quatro séculos, as manadas de cavalos tiveram que enfrentar temperaturas extremas e alimentação desregulada — durante a primavera, fartura;  já no verão e nos invernos mais rigorosos, escassez quase absoluta. Isso proporcionou ao cavalo crioulo duas de suas características mais marcantes: a resistência a grandes adversidades e a facilidade de se adaptar a diferentes ambientes.

Somente no século XIX os fazendeiros perceberam o “ouro” que estava andando livremente pelas planícies próximas. Ao perceberem o porte, a beleza e a facilidade em lidar com o trabalho das fazendas, começaram a preservar a raça. A partir daí, tornou-se praticamente indispensável, principalmente no trato com o gado.

Reconhecimento da raça

Apesar de uma ascendência tão antiga, apenas em 1932 o cavalo crioulo foi reconhecido como pertencente a uma raça. Foi nessa época que, em Bagé/RS, foi fundada a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Crioulo (ABCCC). Já em 1935, foi feito o registro genealógico sul riograndense da raça, e a cidade de Pelotas foi escolhida como sede da ABCCC.

Com o tempo, o reconhecimento do cavalo crioulo foi se popularizando internacionalmente. Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai formaram a Fundação Interamericana de Criadores de Cavalos Crioulos (FICCC). Em 1959, foi estabelecido o padrão da raça.

Em 2019, foram registrados 439,43 mil cavalos crioulos no Brasil — um crescimento de 3,09% em relação a 2018 (426,27 mil). A raça é uma das mais valorizadas da equinocultura brasileira.

Porte

O cavalo crioulo é considerado um animal de pequeno porte. Ele costuma pesar entre 400 e 450 kg. Sua estatura média é de 1,45m, variando entre 1,38m e 1,48m para as fêmeas e 1,40m e 1,50m para os machos.

Apesar do tamanho, o cavalo crioulo é imponente, pois marcha trotando — uma mistura do trote e do passo. 

Outras características de porte físico do cavalo crioulo são:

  • bordo superior subconvexo, com crina grossa em abundância;
  • joelhos fortes e canelas curtas, com tendões fortes;
  • cernelha, dorso e lombo moderados e musculosos;
  • ventre com razoavelmente volumoso e flanco curto;
  • peito amplo, largo e profundo.

Não há um padrão para a cor da pelagem; exceto pintada e albino, há inúmeros tons que ela pode apresentar. Alguns são oveira, pangaré, picaça, preta, rosilha, baia, colorada, bragada, gateada, lobuna, tobiana, tordilha, tostada e zaina. A mais comum é a gateada — amarelo escuro com listras pretas da crina até a cauda.

A raça também é caracterizada por olhos grandes e expressivos, além de orelhas pequenas afastadas das bases.

Habilidades

O cavalo crioulo é inclinado ao trabalho no campo, principalmente com o gado. Também é ótimo para passeio, mas voltando apenas a essa atividade, tem seu potencial desperdiçado.

Quem quer aproveitar ao máximo as habilidades do cavalo crioulo deve voltá-lo à prática atlética, pois ele é ótimo para competições e percursos. 

Na corrida, o cavalo crioulo é praticamente imbatível em distâncias mais curtas. No entanto, é também uma ótima escolha em distâncias mais longas, principalmente por conta da qualidade do seu galope — curto e contínuo, o que o permite andar muito durante o dia.

Provas regulamentadas

O cavalo crioulo tem 14 provas regulamentadas pela ABCCC. Conheça:

  • Campereada
  • Team Penning
  • Crioulaço
  • Enduro
  • Freio Jovem
  • Freio do Proprietário
  • Freio de Ouro
  • Inclusão de Ouro
  • Marcha de Resistência
  • Morfologia
  • Movimiento a La Rienda
  • Paleteada
  • Ranch Sorting
  • Rédeas

O mais interessante é que as provas ajudam a classificar e padronizar a raça. Para se ter uma ideia, a prova Freio de Ouro fez a otimização morfológica e funcional da raça.

Expectativa de vida

O cavalo crioulo tem uma expectativa de vida de, em média, 23 anos.

Personalidade

O cavalo crioulo é muito inteligente — por isso, sua “vocação” a competições não se limita à força física. Além disso, é corajoso, tranquilo, dócil, facilmente domável e tem muita disposição.

Preço

Um cavalo crioulo ainda potro custa por volta de R$ 4 mil; já adulto, o preço salta para R$ 15 mil. Mas esses valores são apenas para animais sem experiência em competições. Um animal com conquistas em competições custa muito mais.

Para se ter uma ideia, o JLS Hermoso, o garanhão mais valorizado da raça, chegou em 2014 a um valor de R$ 16,25 milhões. Esse preço veio por seu alto padrão genético, que o fez capaz de gerar cavalos de alta capacidade competitiva: ele é pai de grandes campeões do Freio de Ouro e também da Morfologia da Expointer.

Na época, cada cobertura ou acasalamento do JLS foi vendida a R$ 108,33 mil. Como o cavalo poderia ter 150 coberturas por ano, chegou-se ao de R$ 16,25 milhões.

Como criar

A melhor forma de criar um cavalo crioulo é deixando-o livre nos primeiros meses de vida. Assim, ele consegue desenvolver melhor as habilidades inatas à raça, como a resistência e a facilidade de adaptação. Mesmo durante a idade adulta, um pasto amplo é o ideal para o animal.

Já com relação ao adestramento, não há mistérios. O cavalo crioulo é muito inteligente e intuitivo. Portanto, aprende com facilidade.

Alimentação

A alimentação é fundamental para que o cavalo desenvolva todas as suas habilidades. Aqui, é preciso que haja uma boa combinação de suplemento, ração e, principalmente, pasto — ele deve ser priorizado frente à comida industrializada.

O melhor pasto para o cavalo crioulo é o da Região Sul. Afinal, foi lá onde a raça se desenvolveu, e a qualidade é melhor do que em outras regiões. Mas quem está longe não precisa se preocupar: é só complementar a alimentação com feno de alfafa, grãos de aveia e sal mineral.

Saúde

Como se desenvolveu em meio a muitas adversidades, o cavalo crioulo dificilmente fica doente. Contudo, é preciso sim manter alguns cuidados para que o animal esteja sempre saudável, principalmente se o dono pretende colocá-lo em competições.

O ponto de mais atenção é com relação aos parasitas. Os externos costumam ser a maior causa de doenças nos cavalos crioulos, mas os internos também podem surgir. 

Alguns pontos importantes:

  • cuidados com os cascos e ferrageamento devem ser feitos por profissionais especializados;
  • não coloque o cavalo molhado na baia, pois ele pode sofrer com dermatites ou podridão dos cascos;
  • a crina serve como proteção contra o sol, portanto não corte-a totalmente na região da cabeça;
  • não dê banho frio no cavalo após um longo dia de trabalho ou exercícios;
  • vacinas e vermifugação devem estar sempre em dia;
  • limpe os cascos diariamente.

Marcha do Cavalo Crioulo

Em 2018, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou uma proposta que confirma a Marcha de Resistência do Cavalo Crioulo do Rio Grande do Sul como manifestação da cultura nacional. O projeto ainda está em tramitação no Senado.

Realizada desde a década de 1980 em  Alegrete (RS), a marcha consiste em um trajeto de 750 quilômetros, divididos em três fases, que devem ser percorridos durante 15 dias. 

Além da resistência física já inata na raça, a manutenção dos cuidados durante a marcha é rígida. Quando os cavalos são colocados para realizar a prova, veterinários são encarregados de manter o bem-estar dos cavalos.